Algumas coisas que aprendi com minha mãe:
1. Dê valor ao trabalho: com trabalho você come e alimenta uma família. Podíamos às vezes sentir a falta de algumas coisas em casa, mas minha mãe sempre cuidou para que nada faltasse dentro de nossa casa. Ela também nos ensinou a desfrutar um pouco da vida comendo algo de bom quando possível. Aqueles queijo Gouda bola é uma das poucas lembranças que tenho de minha mãe feliz com algo que conseguira. Ela adora aquele tipo de queijo e eu ainda o aprecio nos dias de hoje, embora nunca compre um inteiro. Minha mãe às vezes tinha um inteiro daqueles em casa. E ela comia com muito gosto.
2. Família deve permanecer unida: minha mãe ensinou-me a dar valor aos da nossa casa. Ela gostava de reunir todos juntos e vê-los lado a lado. Mas isso nem sempre era possível porque muitos de nossas família tinham uma personalidade forte e briguenta e a maioria das brigas eram por coisas ou por dinheiro. Causava-lhe um desgosto profundo vivenciar brigas pelo pequeno terreno da Cachoeirinha ou porque Marcio e Itelvina estava discutindo por dinheiro que um emprestou ao outro e não pagou de volta. Por isso, nossa casa na Praça 14 foi para meu nome e o nome de minha irmã Izabel Cristina. Minha mãe falava a nós dois que devíamos evitar sermos assim um com outro. O gênio difícil de meus irmãos afastava o resto da família.
A individualidade, o orgulho e o egoísmo faziam que eles falassem uns contra os outros com inveja do que uns tinham e outros não tinham. Minha mãe ouvia zangada os dizeres de Marcio de que 'não pediu pra nascer' e que eu e Izabel tínhamos mais coisas do que ele e Itelvina tiveram. O fato de eu e Izabel gostarmos de estudar virou motivo de as visitas em casa não serem mais frequentes por algum tempo. O que a deixou profundamente triste naquele
período.
3. Seja reservado com o que é seu: Minha mãe guardava as coisas que tinha para a nossa casa o quanto podia. Era exigente dentro de casa, brigava para que as coisas fossem feitas com qualidade. Os palavrões podiam ser muitos, mas isso era para educar a prole de que somente coisas boas trazem coisas boas pra nossa vida.
4. Nunca atrapalhe a hora do descanso: Levei surrar memoráveis por ser irriqueito. Minha mãe tinha sono leve. Qualquer barulho a despertavam, fosse o que fosse. Uma criança irriquieta não ser barulhenta era extremamente difícil. Ela era acordar do sono gritando por algo e papai pegar o cinto ou a madeira mais próxima e tacar em nosso lombo. Ficar imóvel em casa era uma ordem quando se descansava. Uma ordem que eu gostava de burlar para fugir aos domingos atrás de papagaios. Toda segunda-feira a maioria deles era rasgada se eu me comportasse mal.
5. Estude para melhorar de vida: Para lembrar que lugar de criança era na escola. O engraçado é que não passei a odiar a escola. Descobri que boas notas resultavam em presentes e em não levar surras. Apaguei-me a isso como um troféu e fiz o meu melhor no colégio. Enquanto minha irmã estudou em colégio particular todo o ensino fundamental e médio eu fiz escolas públicas e levava surras caso as notas não fossem boas. Meu destino segundo meu pai era ser pedreiro e trabalhar na casa vendendo marmitas. Se não entrasse na Escola Técnica não ia ter segundo grau para mim: ia ser direto para o trabalho e iria parar de estudar. As promessas de uma surra memorável se não entrasse na Escola Técnica e cumprisse a tradição de família - meu avô, meu pai e um de seus filhos já haviam estudo ali - eram diárias. Eu passava as tardes em um cursinho conversando pouco com os colegas ali e mais concentrado em realmente cumprir a meta. Nem minha mãe me ajudaria nisso. Era entrar ou parar de estudar. Eu não tinha escolha. Eu passei.
5. Guarde e mantenha o que é seu: Esse valor também estava embutido no item 1. Minha mãe nunca brigava ou fazia questão do que não era dela. Mas o que era dela era cuidado com carinho e mantido. Ela odiava tanto as discussões de família fazendo questão pelas coisas quem nem eram realmente da família que explicou e repetiu sem parar enquanto cresciamos que a casa na Praça 14 era somente minha e de Izabel e que devíamos trabalhar para manter e cuidar do que era nosso sem brigas e sem discussões. Porque os seus primeiros filhos eram assim egoístas ao extremo e apegados ao que era material mais do que a laços de família, mamãe tratou de incutir em mim e em Izabel um sentimento diferente. Ainda entendo as decepções de minha mãe com sua primeira geração de filhos. Em alguns momentos eles ainda brigam por dinheiro e por bens. A hostilidade é grande e fica quase impossível reunir toda uma família assim. O valor do caráter ficou mais para mim e Izabel. Assistimo mamãe chorando em casa quando voltou da casa de Tel depois de ter que se esconder em um banheiro para que ela recebesse convidados em casa. Vi minha mãe chorar sem parar na Praça 14 depois de ser obrigada a se mudar porque Marcio queria a casa na Cachoeirinha. A vida de minha mãe foi marcada por esses momentos. Eu estava ao lado de minha mãe bem pequeno quando ela ligou para Dalme no Rio de Janeiro aos palavrões dizendo que enviaria Itelvina para ele e ouvi suas palavras quando ela disse 'E você, seu filho da puta, só entra na minha casa quando me mostrar a certidão de casamento de que você casou com a minha filha!'
Eu também estava na porta de casa no dia em que Dalme apareceu em 1980. Ele bateu na porta, chamou pela minha mãe. Eu voltei. A chamei. Ela foi até lá, abriu a porta e daí do Dalme disse:
'- Oi, dona Diva! Aqui a certidão de casamento da sua filha.'
Minha mãe chamava palavrões sem parar em casa. Minha mãe discutia, brigava falando alto, mas uma coisa posso dizer sobre a vida dela: foi alguém que chorou muito pelos filhos que criou. Foi alguém que fez tudo o que podia para criá-los com todas as dificuldades que tinha. A vida dela foi marcada por tragédias, por morte, por falta de dinheiro, por discussões de família, por bens materiais. Tel e Marcio passaram por maus bocados.
Eu e Izabel nunca passamos fome.
Em muitos momentos eu reclamo e brigo com minha esposa pelas coisas como devem ser. Em muitos momentos imito o comportamento que minha mãe possuía. Eu falo demais, falo tudo o que está na minha mente, digo palavrões. Depois que tudo está dito, nós saímos, comemos alguma coisa, nos amamos ou fazemos algo juntos. Sandra passou maus-bocados no início tentando entender meu comportamento. Só compreendeu um pouco quando entrou em nossa casa e conviveu com minha mãe e nossa família. Minha mãe amou minha esposa. Ensinou-a a fazer uma boa comida. Minha esposa passou a ajudar em casa. Eu ganhei o último ralho de minha mãe aos vinte e poucos anos: "Você dê do bom e do melhor para ela! Ela é sua esposa, seu filho da puta! Você a assumiu e você vai dar pra ela tudo o que ela te pedir e vai cuidar dela!!"
Minha mãe viu meu filho Matheus nascer. Cuidou dele por somente dois meses. E deixou este mundo certa de que tinha criado seus filhos no início do mês de Outubro de 1997.
Fazem catorze anos.
Não tem como eu esquecer a data. É a mesma idade de meu filho Matheus. São dois meses depois do seu aniversário. Entre 1 e 4 de Outubro.
Somos também parte de outras pessoas.
Graças a Deus pela mãe que tive.
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Leonardo Metelys
1. Dê valor ao trabalho: com trabalho você come e alimenta uma família. Podíamos às vezes sentir a falta de algumas coisas em casa, mas minha mãe sempre cuidou para que nada faltasse dentro de nossa casa. Ela também nos ensinou a desfrutar um pouco da vida comendo algo de bom quando possível. Aqueles queijo Gouda bola é uma das poucas lembranças que tenho de minha mãe feliz com algo que conseguira. Ela adora aquele tipo de queijo e eu ainda o aprecio nos dias de hoje, embora nunca compre um inteiro. Minha mãe às vezes tinha um inteiro daqueles em casa. E ela comia com muito gosto.
2. Família deve permanecer unida: minha mãe ensinou-me a dar valor aos da nossa casa. Ela gostava de reunir todos juntos e vê-los lado a lado. Mas isso nem sempre era possível porque muitos de nossas família tinham uma personalidade forte e briguenta e a maioria das brigas eram por coisas ou por dinheiro. Causava-lhe um desgosto profundo vivenciar brigas pelo pequeno terreno da Cachoeirinha ou porque Marcio e Itelvina estava discutindo por dinheiro que um emprestou ao outro e não pagou de volta. Por isso, nossa casa na Praça 14 foi para meu nome e o nome de minha irmã Izabel Cristina. Minha mãe falava a nós dois que devíamos evitar sermos assim um com outro. O gênio difícil de meus irmãos afastava o resto da família.
A individualidade, o orgulho e o egoísmo faziam que eles falassem uns contra os outros com inveja do que uns tinham e outros não tinham. Minha mãe ouvia zangada os dizeres de Marcio de que 'não pediu pra nascer' e que eu e Izabel tínhamos mais coisas do que ele e Itelvina tiveram. O fato de eu e Izabel gostarmos de estudar virou motivo de as visitas em casa não serem mais frequentes por algum tempo. O que a deixou profundamente triste naquele
período.
3. Seja reservado com o que é seu: Minha mãe guardava as coisas que tinha para a nossa casa o quanto podia. Era exigente dentro de casa, brigava para que as coisas fossem feitas com qualidade. Os palavrões podiam ser muitos, mas isso era para educar a prole de que somente coisas boas trazem coisas boas pra nossa vida.
4. Nunca atrapalhe a hora do descanso: Levei surrar memoráveis por ser irriqueito. Minha mãe tinha sono leve. Qualquer barulho a despertavam, fosse o que fosse. Uma criança irriquieta não ser barulhenta era extremamente difícil. Ela era acordar do sono gritando por algo e papai pegar o cinto ou a madeira mais próxima e tacar em nosso lombo. Ficar imóvel em casa era uma ordem quando se descansava. Uma ordem que eu gostava de burlar para fugir aos domingos atrás de papagaios. Toda segunda-feira a maioria deles era rasgada se eu me comportasse mal.
5. Estude para melhorar de vida: Para lembrar que lugar de criança era na escola. O engraçado é que não passei a odiar a escola. Descobri que boas notas resultavam em presentes e em não levar surras. Apaguei-me a isso como um troféu e fiz o meu melhor no colégio. Enquanto minha irmã estudou em colégio particular todo o ensino fundamental e médio eu fiz escolas públicas e levava surras caso as notas não fossem boas. Meu destino segundo meu pai era ser pedreiro e trabalhar na casa vendendo marmitas. Se não entrasse na Escola Técnica não ia ter segundo grau para mim: ia ser direto para o trabalho e iria parar de estudar. As promessas de uma surra memorável se não entrasse na Escola Técnica e cumprisse a tradição de família - meu avô, meu pai e um de seus filhos já haviam estudo ali - eram diárias. Eu passava as tardes em um cursinho conversando pouco com os colegas ali e mais concentrado em realmente cumprir a meta. Nem minha mãe me ajudaria nisso. Era entrar ou parar de estudar. Eu não tinha escolha. Eu passei.
5. Guarde e mantenha o que é seu: Esse valor também estava embutido no item 1. Minha mãe nunca brigava ou fazia questão do que não era dela. Mas o que era dela era cuidado com carinho e mantido. Ela odiava tanto as discussões de família fazendo questão pelas coisas quem nem eram realmente da família que explicou e repetiu sem parar enquanto cresciamos que a casa na Praça 14 era somente minha e de Izabel e que devíamos trabalhar para manter e cuidar do que era nosso sem brigas e sem discussões. Porque os seus primeiros filhos eram assim egoístas ao extremo e apegados ao que era material mais do que a laços de família, mamãe tratou de incutir em mim e em Izabel um sentimento diferente. Ainda entendo as decepções de minha mãe com sua primeira geração de filhos. Em alguns momentos eles ainda brigam por dinheiro e por bens. A hostilidade é grande e fica quase impossível reunir toda uma família assim. O valor do caráter ficou mais para mim e Izabel. Assistimo mamãe chorando em casa quando voltou da casa de Tel depois de ter que se esconder em um banheiro para que ela recebesse convidados em casa. Vi minha mãe chorar sem parar na Praça 14 depois de ser obrigada a se mudar porque Marcio queria a casa na Cachoeirinha. A vida de minha mãe foi marcada por esses momentos. Eu estava ao lado de minha mãe bem pequeno quando ela ligou para Dalme no Rio de Janeiro aos palavrões dizendo que enviaria Itelvina para ele e ouvi suas palavras quando ela disse 'E você, seu filho da puta, só entra na minha casa quando me mostrar a certidão de casamento de que você casou com a minha filha!'
Eu também estava na porta de casa no dia em que Dalme apareceu em 1980. Ele bateu na porta, chamou pela minha mãe. Eu voltei. A chamei. Ela foi até lá, abriu a porta e daí do Dalme disse:
'- Oi, dona Diva! Aqui a certidão de casamento da sua filha.'
Minha mãe chamava palavrões sem parar em casa. Minha mãe discutia, brigava falando alto, mas uma coisa posso dizer sobre a vida dela: foi alguém que chorou muito pelos filhos que criou. Foi alguém que fez tudo o que podia para criá-los com todas as dificuldades que tinha. A vida dela foi marcada por tragédias, por morte, por falta de dinheiro, por discussões de família, por bens materiais. Tel e Marcio passaram por maus bocados.
Eu e Izabel nunca passamos fome.
Em muitos momentos eu reclamo e brigo com minha esposa pelas coisas como devem ser. Em muitos momentos imito o comportamento que minha mãe possuía. Eu falo demais, falo tudo o que está na minha mente, digo palavrões. Depois que tudo está dito, nós saímos, comemos alguma coisa, nos amamos ou fazemos algo juntos. Sandra passou maus-bocados no início tentando entender meu comportamento. Só compreendeu um pouco quando entrou em nossa casa e conviveu com minha mãe e nossa família. Minha mãe amou minha esposa. Ensinou-a a fazer uma boa comida. Minha esposa passou a ajudar em casa. Eu ganhei o último ralho de minha mãe aos vinte e poucos anos: "Você dê do bom e do melhor para ela! Ela é sua esposa, seu filho da puta! Você a assumiu e você vai dar pra ela tudo o que ela te pedir e vai cuidar dela!!"
Minha mãe viu meu filho Matheus nascer. Cuidou dele por somente dois meses. E deixou este mundo certa de que tinha criado seus filhos no início do mês de Outubro de 1997.
Fazem catorze anos.
Não tem como eu esquecer a data. É a mesma idade de meu filho Matheus. São dois meses depois do seu aniversário. Entre 1 e 4 de Outubro.
Somos também parte de outras pessoas.
Graças a Deus pela mãe que tive.
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Leonardo Metelys
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